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Com o passar do tempo, aquela brincadeira de criança que até então resultava em bichinhos como cavalos, bodes e vacas de cerâmica, deu lugar a outros personagens. Vitalino passou a retratar em suas obras, o homem do agreste nordestino, o vaqueiro, o agricultor, os retirantes etc , em cenas de seu cotidiano rural.
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Anos depois, já em 1947, com 38 anos, Mestre Vitalino continuava a viver da roça e de modelar o barro. Um amigo e artista plástico Augusto Rodrigues, grande admirador de seu trabalho, convenceu o Mestre a mudar-se com sua família para uma localidade próxima de Caruaru chamada Alto do Moura.
No Alto do Moura, Vitalino estava perto da famosa feira de Caruaru, onde vários artesãos, de todo o agreste, vinham expor seus trabalhos e onde se comercializava de tudo. A banca do Mestre oferecia bonecos feito com barro, mas ele diferenciava-se dos outros artesãos, que abordavam sempre os mesmos temas: jarras, moringas, maracatus, animais, potes etc. Mestre Vitalino esculpia no barro cenas do cotidiano sertanejo em que vivia e dava uma nova inspiração a esse trabalho, que o fez ganhar fama e reconhecimento por todos do Alto do Moura.
Com Vitalino como inspiração, vários outros artesãos começaram a seguir seus passos e mudaram o tema de suas esculturas para bonecos. Mestre Vitalino ajudou muitos deles, passando muitos de seus conhecimentos e técnicas, sem medo de concorrência. Esses artesãos ficaram conhecidos como discípulos de Mestre Vitalino e todos trabalhavam num clima de harmonia e solidariedade na feira de Caruaru.
O Alto do Moura e seus artistas ficaram conhecidos em todo o estado de Pernambuco e vinham fregueses de todos os lugares comprar peças para si mesmos e para revender em Recife e outras cidades. Contudo, a vida de “bonequeiro” não era fácil. Eles trabalhavam exaustivamente na produção de peças, no manejo do forno, muitas vezes com prazo para entrega de encomendas e eram pessimamente remunerados. Como precisavam pagar suas contas, aceitavam de qualquer forma, e assim, Vitalino e todos os demais morreram pobres.
Outra faceta do mestre era a música. Ele era festeiro e não perdia uma folia onde pudesse tocar eximiamente seu pífano. Chegou até a viajar para o Rio de Janeiro em 1960, onde,junto com outros, gravou diversas músicas no estúdio da rádio MEC (Ministério da Educação e Cultura).
Vitalino Pereira dos Santos faleceu em 20 de janeiro de 1963, de varíola, porém, o Mestre Vitalino está vivo até hoje, perpetuado em suas obras, expostas em museus por todo o Brasil.
Hoje, no Alto do Moura, funciona a Casa-Museu de Mestre Vitalino, administrada por seu filho Severino, instalada na antiga casa, construída em 1959, onde o mais famoso dos bonequeiros viveu, trabalhou e morreu. Lá são expostos objetos de uso pessoal do artista, suas ferramentas de trabalho, móveis, utensílios e fotos que retratam sua trajetória. No quintal, permanece o forno a lenha em que fazia suas queimas.
Ainda hoje no Alto do Moura existem dezenas de artesãos vivendo da arte de modelar o barro. Além de parentes de Vitalino, há ainda alguns de seus discípulos trabalhando no local.
Vale à pena conferir tudo isso quando estiver de passagem por Caruaru!
Por: Ana Luiza
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