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6 de ago. de 2009

Da Dor...


A gente sofre por tanta coisa. Sofre porque algum parente querido mora longe, sofre porque sente falta de um amigo que mudou de país, sofre com a briga constante dos pais, sofre porque não consegue encontrar o verdadeiro amor e sofre porque já perdeu as esperanças de encontrá-lo.

Há pessoas que gostam de sofrer mais. Sofrem porque a Internet está muito lenta (pra que serve essa banda larga, então?) ou porque perdeu o capítulo da novela em que o mocinho, finalmente, beijaria a mocinha (que raiva! Agora só vou poder assistir no Vale a Pena Ver de Novo).

Outras pessoas sofrem com motivo: alguém doente na família, uma situação financeira difícil, notas vermelhas no boletim, chefe insuportável, sogra implicante.

Alguns (senão todos) desses motivos podem ser contornados. Difícil é quando o sofrimento nasce de dentro da gente por uma razão desconhecida ou até conhecida, mas incontrolável. Lidar com a dor é algo comum. Não há ser humano que não experimente uma dor sequer. O problema passa a ser lidar com ela, eliminá-la.

Os terapeutas estão com as agendas cheias. As pessoas precisam de ajuda para serem curadas de sofrimentos. O mundo dos lobos, onde só sobrevivem os mais espertos e os mais talentosos, massacra os cordeiros que, não por culpa deles próprios, se portam de maneira diferente.

Resta ao tímido marcar uma consulta e tentar se livrar dos seus medos e das suas limitações para poder conseguir se expressar em uma entrevista de emprego. Cabe ao solitário sentar-se no divã e buscar uma forma de alimentar seu lado social; as empresas exigem pessoas dinâmicas que saibam trabalhar em conjunto. O carrancudo deve sorrir mais, o extravagante deve se conter, o sentimental deve manter os pés no chão, o advogado deve entender de acrobacias e os médicos de súmulas, a aeromoça deve ser magra, bonita e falar javanês, e por aí vai. Padrões. Fôrmas. Rótulos. Há maneira certa para tudo. Não há mais a liberdade para viver ao seu modo. Existem cobranças e um mundo povoado de pessoas com o dedo em riste na sua direção.

Não me espanta ver tanta gente sofrendo da alma. Sofrendo porque a alma é oprimida, não consegue se libertar em meio a tanto caos.

Ás vezes me pergunto por que escrevo. Escrever me liberta. Faço um vôo rasante sob meus sofrimentos, coloco-os em ordem, espaireço. Não sei que poder de cura tem as palavras, mas faço uso delas. Para quem não tem por onde começar, eis uma dica: rabisque qualquer coisa num canto de papel. Aos poucos a alma vai ficando leve; deliciosamente leve.

Por Filipe Garcia

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